A República em Loureiro nos 100 Anos da sua Implantação
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Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia de Freguesia

Ex.mos Membros da Assembleia de Freguesia

Ex.mos Dirigentes Associativos

Ex.mo Padre Bastos

Ex.mo Prof. Vasco Vaz

Loureirenses

 

Há 100 anos, nesta terra de Loureiro, decerto que não se ouviu falar da República, tampouco da revolução que na Capital do país tinha culminado na declaração de José Relvas, à varanda da actual Câmara Municipal de Lisboa. Como em quase todas as revoluções ou mudanças de regime, são as elites que preparam, corroem e oficializam o que acreditam ser o “novo mundo”. Um “novo mundo” que os obreiros de tais mudanças acreditam ser a “receita” correcta para libertar os cidadãos dos males que os atrofiam.

 

Será que foi isto que aconteceu com a Implementação da República e outras revoluções, como por exemplo o 25 de Abril? Sim, e, do que conheço, as elites conduzem sempre os seus concidadãos para outro sistema qualquer, sempre na esperança que seja, porventura, o sistema do fim da história, na ilusão da resolução para os problemas do dia-a-dia, a partir daí.

 

Isto para dizer que a grande massa da população, em particular em Loureiro, nem sequer se apercebeu, no imediato, do que tinha acontecido. A Implementação da República foi um processo lento que lentamente ganhou adeptos, por convicção, resignação ou desconhecimento. Para estas coisas nunca se marcam referendos para consultar a maioria. Estranha vicissitude esta, que parte da vontade de uma minoria para dar mais democracia à maioria? Não, vicissitude é quando não há minorias e, aparentemente todos são a maioria. Uma das últimas vezes que presenciei isso foi, no Iraque de Saddam Hussein há poucos anos com as quase 100% das intenções de voto. Não é preciso dizer mais nada.

 

Independentemente do meu republicanismo, não quero aqui sacrificar a República, ou melhor dizendo, a forma como nesses primeiros tempos, essa, a que se chama de Primeira República evolui e se quis consolidar. A forma e o conteúdo podem ser condenáveis em algumas acções, como decerto também o eram na Monarquia, mas discutamos a essência, a base, os pressupostos do regime ou de um sistema. Isso é importante pois pôr termo a uma monarquia é acabar com aquela grande discriminação de só se poder ser chefe do Estado mediante herança familiar. Aqui a palavra igualdade não cabe. Nós, os que não nascemos em berço marcado, não conseguimos chegar a ela. Mesmo que fosse fácil consegui-lo pela inteligência e capacidade, o sangue nunca o deixaria.

 

Mas hoje, passados 100 anos, se a República é bem aceite por uma grande maioria, não é tão consensual a Primeira, que decorreu entre o 5 de Outubro de 1910 e o 28 de Maio de 1926. Talvez a cura excessiva do Estado Novo só tenha conduzido à actual República, que muitos chamam de Terceira. Seja lá como for, a República que hoje comemoramos está ainda em construção e estará. O maior ou menor grau da sua qualidade, depende do contributo que todos nós nela colocamos. Sem o nosso esforço, não pode haver o esforço de mais ninguém, pois o Estado somos todos nós.

 

Mas não vale de nada falarmos de República, sem falarmos em Nação. A nossa, aquela pela qual chamamos Portugal, ao contrário do que se diz não está profundamente doente. Pode estar constipada, pode ser boa para se cantar o fado. O fado musical ou aquele em que, alguns, querem transformar a vida. Podemos olhar com saudade para o infinito, podemos ter saudade do que não conhecemos ou não necessitamos, mas parece que está nos nossos genes que tenhamos saudade. Se não for mais, da nossa infância ou juventude. Do sabor das comidas do passado, dos costumes, dos políticos experientes ou sérios de aspecto, devido ao ar grave dos seus rostos. Temos também quase sempre uma palavra a dizer para ficarmos parados. Por vezes parece que é assim, mas Portugal é mais que isso. Portugal não é o velho do Restelo que fica na ocidental praia lusitana a ver os outros a tentarem serem empreendedores.

 

Hoje, que aqui estamos, não aqui nesta sala, mas nesta vida, neste país, temos o dever de não nos resignarmos à triste sina do deficit, dos políticos corruptos ou dos cidadãos oportunistas. Já agora uma pergunta. Qual será a percentagem maior, a dos políticos corruptos ou dos cidadãos oportunistas?

 

Aproveitemos esta data para celebrar Portugal. Aproveitemos para olhar para as coisas boas, por exemplo para o grande centro médico de investigação da Fundação António Champalimaud que hoje é oficialmente inaugurado em Lisboa. Olhemos para os hospitais de há 30 anos e para os de hoje. Para as estradas, para as escolas, para a rede de instituições de solidariedade social, para a cultura, para o ambiente. Olhemos e não nos envergonhemos. Se não formos nós a defender o nosso país, quem será. Ou preferíeis viver na América Latina, em África, na Ásia ou no Médio-Oriente? Pensai nisto.

 

Mas devemos contentarmo-nos com o mal dos outros, abandonando-nos ao deixa andar. Não, temos que contribuir. Não podemos exigir, sem antes estarmos dispostos a contribuir. E não é o nosso país, a nossa Câmara ou a nossa Freguesia que nos vai resolver todos os problemas. Temos que entrar numa nova era. Não esperar, antes avançar.

 

E essa nova era é:

 

– Defender o bom nome da Freguesia, a sua história e cultura;

– Colaborar com as instituições e associações da Freguesia;

– Contribuir para a sustentabilidade local, através da defesa do ambiente, da indústria, do comércio, da agricultura ou outra qualquer actividade;

– Reutilizar ou transformar o lixo que produzimos e, se não for possível, proceder à sua separação para reciclagem;

– Não colocar lixo no chão, nas vias públicas ou outras infra-estruturas;

– Procedermos à limpeza das nossas propriedades, deixando sem árvores um corredor de 5 metros quando as mesmas confrontem com estradas, caminhos ou habitações;

– Procedermos à limpeza de valetas e muros em frente às nossas propriedades rústicas e urbanas;

– Procedermos à limpeza das margens dos rios ou outros cursos de água, que confrontem com as nossas propriedades;

– Não ligar definitivamente ou casualmente às condutas de águas pluviais, resíduos líquidos provenientes de fossas, água com detergentes ou outros produtos poluentes;

– Colaborar na cedência de terreno para alargamento de vias, construção de muros ou passeios.

 

Ser consciente passa também por isto, fazermos a nossa parte. E a nossa parte é mesmo muito, muito importante para o bem de todos.

 

Não podia neste dia dizer outra coisa que não isto. Não podia neste dia em que se assinala e celebra a República estar aqui de rosto caído e medroso. Quem quiser ficar que fique, mas eu vou avançar, Loureiro vai andar. Portugal para desilusão de alguns vai continuar.

 

E para citar o Poeta, digo:

 

Portugal

O teu destino é nunca haver chegada

O teu destino é outra índia e outro mar

E a nova nau lusíada apontada

A um país que só há no verbo achar

 

Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"

 

Viva a República

Viva Portugal

 

Rui Jorge da Silva Cabral

05 de Outubro de 2010